SERGIO ESTEBAN VÉLEZ
O filme "O Gebo e a Sombra", a mais recente produção do legendário diretor de cinema português Manoel de Oliveira, foi um dos melhores filmes do do Festival de Cinema Francófono Cinemania. No mês de novembro, os habitantes de Montreal tivemos a oportunidade de ver este film de de Oliveira.
Além de ser uma obra-prima cinematográfica, o filme é uma proeza, dado que o seu diretor, Oliveira, cumpriu no passado mês de dezembro 104 anos de idade. Oliveira é, realmente, o decano do cinema do mundo, ainda em exercício.
O filme protagonizado por Michel Lonsdale, conta também com a participação de duas grandes estrelas do cinema europeu: Claudia Cardinale e Jeanne Moreau. Os diálogos do filme são em português.
Filme de época ambientado em Paris, esta obra é inspirada no drama em quatro atos "O Gebo e a Sombra", clássico da dramaturgia portuguesa escrito por Raul Brandão (1867 - 1930) em 1923. Nela se denunciam as mudanças sociais presentes na sociedade portuguesa nos anos vinte, nos últimos tempos da Primeira República, com o empobrecimento geral da maioria da população e o rápido enriquecimento dos especuladores e financeiros. No filme, Gebo é um velho empregado, honesto e escrupuloso, que sobrevive na pobreza com sua esposa e sua filha adoptiva (e concomitantemente nora) Sofia. A esposa acusa a Gebo de não se interessar pela vida do seu filho João, que que havia desaparecido oito anos antes. O fato é que o filho, realmente, tinha abandonado a família para dedicar-se à vadiagem e delinquência.
A mãe mais não fazia que sonhar com o regresso do filho a casa e estava segura de que, se isto sucedesse, as misérias da família terminariam. E, depois de muitas orações da mãe rezando pelo regresso do filho, este, milagrosamente, volta. Mas a sua estadia em casa será demasiado breve. Tinha-se tornado um criminoso e, ao não poder ser infiel à nova vida, ele termina cometendo um novo e grave delito. O velho Gebo, para evitar que sua esposa morresse de tristeza ao constatar a verdadeira face de seu filho, decide sacrificar-se.
O diretor Oliveira expressou que queria realizar um filme sobre a pobreza, e que esta foi inspirada na obra de Brandão, dado que as teses do escritor português são de caráter universal.
Além da Cinemania, este filme também se tem exibido em outros importantes festivais, como o de Veneza e o de Toronto.
Algumas outras obras deste famoso diretor simbolista são "Aniki-Bobó" (1942), "Acto da Primavera" (1963), "Benilde ou a Virgem Mãe" (1974), "Le Soulier de Satin" (1985), "A Divina Comédia" (1991), “Vale Abraão” (1993), "O Convento" (1995), “Inquitude” (1998), "A Carta" (1999), “Palavra e Utopia” (2000), “Vou para Casa” (2001), “Um filme falado” (2003), "Espelho Mágico" (2005) e "Singularidades de uma Rapariga Loura" (2009), entre outros filmes importantes.
Actualmente, Oliveira prepara-se para apresentar o seu novo filme, “A Igreja do Diabo”.